A trapaça dos ultraprocessados
alimentos ou bebidas ultraprocessados: não são propriamente alimentos, mas, sim, formulações de substâncias obtidas por meio do fracionamento de alimentos
Das questões que envolvem o bem estar e a saúde, uma me chama a atenção pela falta de conhecimento geral do público: o consumo de ultraprocessados.
Dentro da minha bolha percebo que as pessoas até sabem que devem evitar esse tipo de produto, mas o problema é saber identificar quais os produtos são realmente ultraprocessados. O marketing pesado e as mudanças nas formulações dos produtos tornam quase impossível que a compra do mercado passe sem uma boa dose de aditivos, mesmo o consumidor não tendo a intenção de ter esse tipo de substância na mesa.
Ao escutar a série de quatro episódios do podcast Prato Cheio, do projeto O Joio e o Trigo, alguns fatos me chamaram a atenção e vim dividir com vocês.
Vamos começar com a definição de Ultraprocessado? De acordo com a classificação NOVA, a mais aceita atualmente (e criada aqui na USP), alimentos ou bebidas ultraprocessados: não são propriamente alimentos, mas, sim, formulações de substâncias obtidas por meio do fracionamento de alimentos. Essas substâncias incluem açúcar, óleos e gorduras de uso doméstico, mas também isolados ou concentrados protéicos, óleos interesterificados, gordura hidrogenada, amidos modificados e várias substâncias de uso exclusivamente industrial.
Os processos e ingredientes usados para fabricar alimentos ultraprocessados são desenvolvidos para criar produtos altamente lucrativos (ingredientes de baixo custo, longa durabilidade, produtos de marca). Sua conveniência (imperecíveis, prontos para consumir), hiper-palatabilidade (sabor de intensidade extrema), promoção e apropriação pelas corporações transnacionais e marketing agressivo dão aos alimentos ultraprocessados enormes vantagens de mercado sobre todos os outros grupos alimentares.
Então os produtos são criados para serem deliciosos, práticos, convenientes e, não podemos esquecer, extremamente lucrativos para as indústrias. Onde está a pegadinha? Porque eles são tão atacados? Porque eles adoecem (de acordo com uma série de estudos científicos) quem os consome em excesso.
Na França, uma grande pesquisa do Grupo de Pesquisas em Epidemiologia Nutricional da Universidade de Paris acompanhou, por vários anos, a alimentação de mais de 100 mil adultos visando relacionar o padrão alimentar de cada pessoa ao risco de adoecer. Os resultados, publicados em revistas médicas altamente conceituadas como British Medical Journal, JAMA e PloS Med, demonstraram a clara associação do consumo de alimentos ultraprocessados com a incidência de obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, depressão e câncer de mama e, ainda, com o risco de morrer precocemente por qualquer causa.
Ainda: um corpo crescente de pesquisas tem mostrado uma relação entre ultraprocessados e problemas de saúde mental.
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