Contagem regressiva
É longe demais, eu pensava. Não saberia nem como começar a pesquisar esse roteiro, é caro demais, preciso de muito tempo… E assim o sonho foi sendo adiado.
Sentada na janela, eu me sentia em um filme. Os turistas americanos conversando entre si enquanto a van percorria os caminhos que eu tanto sonhei em conhecer. Reconheci da TV os tijolinhos, as saídas de incêndio. Vi as escadinhas e na esquina, as placas em fundo verde com a numeração das ruas.
De repente, cruzamos a Times Square. Um monte de luzes e gente, que logo ficou pra trás. Cheguei ao meu destino. Pela primeira vez cruzei uma daquelas portas giratórias, e em seguida me surpreendi com o pé direito imenso do hall. Tocava Frank Sinatra ao fundo, e claro que New York, New York foi a primeira música que ouvi.
Três anos depois, me levantei da cama muito antes do que pretendia. Havia chegado tarde da noite ao hotel, após três vôos cansativos. Ainda não tinha amanhecido, então abri a porta de madeira da varanda com cuidado e me sentei nos degraus de pedra.
O silêncio me fazia companhia enquanto o dia começava a clarear e eu finalmente pude ver ao vivo o contraste com que eu tanto sonhei: o branco fosco das construções com o azul intenso do mar lá embaixo. Seu pai, meu marido há 3 dias, acordou e logo chegou o café da manhã, servido, claro, na varanda. Abri um sorriso ao ver que incluíram uma tigela de iogurte grego na bandeja.
Mas antes de conhecer NY e Santorini, outro lugar se tornou meu sonho. Não sei exatamente quando começou meu fascínio com a estética kawaii, mas ao concluir a faculdade, decidi que este seria o tema do meu TCC e projeto.
E assim devorei livros e sites sobre o tema, decorei o álbum da Gwen Stefani com suas Harajuku Girls e pude passar dias analisando embalagens dos produtos que comprei na visita à Liberdade. Dediquei o meu último ano como estudante de design a analisar, entender e criar a minha versão daquilo que tanto me fascinava. Tirei a nota máxima, por sinal.
Mas mesmo anos depois, com mais de 26 países na lista de viagens, o Japão ainda não havia entrado na minha rota. É longe demais, eu pensava. Não saberia nem como começar a pesquisar esse roteiro, é caro demais, preciso de muito tempo… E assim o sonho foi sendo adiado.
Hoje eu entendo o motivo. Não era hora. A hora de conhecer o país dos meus sonhos só chegou com você. Você, que ignorando todas as nossas tentativas e especialistas, se recusa a comer uma folhinha de alface, mas devorou a fatia de peixe cru na primeira oportunidade que provou.
Você, que ao começar a desenhar, fez páginas e páginas de olhos gigantes e brilhantes de anime. Você, que sonha em ter um kimono e elegeu uma luta marcial como seu esporte do coração. Você, que ao provar da minha tigela de rámen aos 2 anos, começou a cantar e bater na mesa exclamando “qué qué macarrão”. Você, que andava pela casa com sua melhor amiga cantando a música do Totoro e declarando seu amor pelas personagens do game japonês.
Estou literalmente contando os dias para embarcar no nosso sonho, filha. Mal posso esperar para conhecer esse lugar que a gente já ama, mesmo sem nunca ter estado lá. Qual será a sua lembrança ao chegar? Espero que sejam doces como as minhas.
Na comunidade
-Cabelo X treinos: Alguma forma especial de cuidar no pré treino? E nos pós?
Aff, que lindo! A sua forma de escrever o que vc sente é magnífica!
(Acho que todos nós vamos nos emocionar quando os vlogs do Japão, finalmente, chegarem 🫶🏻)
Lu, tive a oportunidade de estar por duas vezes em Tokyo, e em ambas, posso te garantir: o Japão supera todas as nossas expectativas, entrega todos os clichês, e adiciona milhares de pequenas surpresas pelas quais não esperávamos. Vai ser incrível!